domingo, 15 de março de 2009

Pedro Guedes Rolim











Minhas POESIAS
Em Defesa da Cultura Popular





























Rolim, Pedro Guedes
Minhas Poesias/Pedro Guedes Rolim - 2008
Aurora- CE
Gráfica:


























Minhas Poesias
em defesa da cultura popular
SUMÁRIO



Apresentação 05
Notas sobre o autor 06
Dedicatória 07


GÊNERO POPULAR

Coisas de doer 08
A Poesia chorou com a morte de Patativa 10
Saudosa foto 13
Meu Sertão 15
A volta de Jesus 17
O candidato 23
Quero passar novamente no caminho da
saudade 27
Mudança de pobre 30
“Tia Menta” 33
Não quero que os fiéis esqueçam
Frei Damião 35
Segunda-feira 37
A coisa pior do mundo 39
As vantagens do “Apagão” 41
Amor desfeito 43
A chuva 45
Mágoa de eleitor 47
Ociosidade 53


SONETOS

Efêmera dúvida 56
Só por hoje 57
Efeméride augustiana 58
Hellen Vitória 59
Apresentação


Conseguir fazer a transposição dos dilemas da existência humana na força bruta da rima, talhada numa linguagem crua, verdadeira, artística e literária, penetrando nos umbrais das fendas da alma, no tecido social, permeando os mais difíceis temas, desde a composição artística ao grito do íntimo do ser; de forma convincente, numa linguagem de plumagem escorregadia, rápida, viva, sublime, conduzindo o leitor a fazer uma revisão de suas atitudes; diante da passagem existencial, é para mim algo que só pude encontrar na linguagem poética do jovem Pedro Guedes Rolim, a força de sua poesia está no ponto iniciático da possibilidade de um novo ser, um novo caminho, uma nova luz!
O poeta dá o passo inicial, num encaixe de malabarismo lírico, onde consegue problematizar a nossa cultura, a nossa religiosidade e enfim no sopro efêmero do temporal da existência; os conflitos já não são conflitos, mas sim, referenciais para várias interpretações da rolagem do homem na bola azulada.
Ler Pedro Guedes Rolim é abrir uma cortina para desconstrução do homem velho para a construção do homem luz... O homem que tem responsabilidade para com o meio social em que vive, cada verso é um convite à mudança do velho para o novo, é navegar no oceano da cultura, mas não a cultura do conformismo, do estático, pois o poeta se lança nas linhas elásticas do “eu” poético e sobrevoa nos mais longínquos horizontes da imaginação, trazendo para o leitor a poesia ritmada, a rima polida, a poesia lapidar, a poesia lição de vida, a poesia arte.
Praza Deus, Pedro Guedes Rolim possa dar continuidade a este lirismo artístico literário, tão raro, tão nobre, tão caro, nesta tarefa tão árdua que é a de esculpir na alma humana a paisagem poética, bem delineada, bem torneada, versos precisos, luzes para uma vida. Luzes para um ser, luz para um novo mundo.
Parabéns, Pedro Guedes Rolim por semear de forma precisa a poesia do equilíbrio racional poético na engenharia da construção continuada da sociedade humana.


Luiz Domingos de Luna
Aurora /Maio, 2007.
Notas sobre o autor

Pedro Guedes Rolim nasceu no dia 04 de fevereiro de 1966. Natural de Cajazeiras, na Paraíba, chegou ao Ceará no ano de 1981 ainda muito jovem, com 14 anos de idade, fixou residência no Sítio Queimadas e posteriormente no Riacho Seco, Município de Barro-CE. No ano de 1983 aos 16 anos, ingressa no Seminário Nossa Senhora da Assunção de Cajazeiras-PB, sua terra natal, onde conclui o Ensino Médio, antigo Científico e ingressa, por sua vez no Curso de Filosofia em Maceió - Alagoas, isso em 1988. Foi neste ano que Pedro Guedes Rolim desistiu da caminhada sacerdotal, sem chegar a concluir o Curso de Filosofia. Já no Seminário Menor, em Cajazeiras, ainda conseguiu assumir algumas funções: Presidente do Grêmio Estudantil, Regente de Turma, (uma espécie de coordenador), chefe de liturgia e professor substituto, sobrando tempo ainda para catalogar várias poesias. Uma delas está neste compêndio, intitulada Efêmera Dúvida, deixando transparecer um pouco a sua indecisão em relação à vocação religiosa.
No ano de 1992, começa a trabalhar como radialista na Rádio Boa Esperança de Barro-CE. Em 1993, de volta a Cajazeiras, fica por um certo tempo na cidade, onde chega a assumir a função de auxiliar de redação na Rádio Difusora AM. No mesmo ano retorna ao Ceará, abraçando definitivamente a profissão de radialista, chegando a profissionalizar-se, depois de um bom período de serviços prestados no Rádio. Hoje é integrante do Sindicato dos Radialistas e Publicitários do Ceará. Mas, uma das coisas que mais gosta, é fazer poesias, aproveitando sempre os bons momentos de inspiração.
Sua poesia é simples, atrativa e de fácil assimilação. O autor segue a linha de poeta declamador, aquele que escreve e declama versos, sem ser necessariamente um poeta repentista. Pedro Guedes Rolim aos poucos, vem buscando o seu espaço na Cultura Regional. Pouco tem se apresentado em público, seus trabalhos têm sido divulgados especialmente no Rádio, contando com o apoio até então, dos colegas radialistas.
Outras divulgações também já foram feitas na imprensa escrita, com maior especialidade quando ele, no ano de 2002, foi um dos vencedores do Feserp, Festival Sertanejo de Poesia (Prêmio Augusto dos Anjos), realizado na cidade de Aparecida – PB, quando conseguiu ficar em 2º lugar, com o trabalho intitulado “A Poesia Chorou Com a Morte de Patativa”, concorrendo com outros poetas escritores de várias regiões do Brasil, isto porque, o Feserp é um evento realizado a nível nacional. O autor recebeu certificado de participação, troféu Augusto dos Anjos e título de menção honrosa.
As suas melhores poesias estão reunidas neste livro, a grande maioria surgidas em Aurora, onde reside atualmente, terra que é considerada como reveladora de talentos, onde adotou também este valoroso poeta popular que tem dado inegavelmente, a sua contribuição com a cultura local e regional.
DEDICATÓRIA

Primeiramente a Deus, pelo Dom da Poesia e inspiração para produzir estes versos. A minha esposa Hélia Pessoa pelo apoio e incentivo e nossa filha Hellen Vitória, uma das maiores bênçãos do Criador para nossas vidas.
Aos meus queridos pais José Alexandre e Cecília Guedes (In Memorian), que em vida souberam amar seus filhos e encaminhá-los para o bem. Enfim, a todos que colaboraram para a concretização deste sonho, meu muito obrigado!
INÍCIO
A poesia premiada de Pedro Guedes mostra também uma preocupação com os problemas sociais que afligem a nossa gente, como se observa neste trabalho.

Coisas de doer

Uma criança abandonada
Sem carinho, sem mesada
Vivendo só pra sofrer
Ficando sempre a mercê
De uma esmola de um adulto
Sujeita a qualquer insulto,
Isso é coisa de doer.

Um homem desempregado
Vivendo subestimado
Pela ganância do poder.
É triste o seu padecer
Vendo os filhos passar fome,
Sem posição e sem nome,
É coisa que faz doer.

Ouvir uma mãe chorando
Por justiça implorando
Vendo o seu filho morrer
Vítima do insano poder
De bandidos sem punição,
Dilacera o coração,
Até a alma faz doer.

Um pobre trabalhador
Que se empenha com fervor
No roçado pra colher.
Mas, depois não vê chover
Perdendo o investimento
Restando só o lamento,
Isso também faz doer.

Criar um filho querido
E depois dele crescido
Ele humilhar você,
Procurando sem envolver
Só com gente que não presta
Uma coisa como esta
Faz o coração doer.

Eleger um candidato
Que depois se torna ingrato
E vira as costas pra você,
Nunca pode lhe atender
Quando quiser falar com ele
Não espere nada dele
Porque é ruim de doer.

Uma seca no Nordeste
Forçar o “cabra da peste”
Ir embora sem saber
Como vai sobreviver
Com a família n’outro chão
Sem esperança, sem pão,
Isso muito faz doer.

Na porta de um hospital
Um enfermo passar mal
E ninguém pra atender
E depois que ele morrer
Ficar impune o culpado
Nem sequer ser processado,
É muita coisa pra doer.
2ª colocada no Feserp – Festival Sertanejo de Poesias realizado em Aparecida, PB, Edição 2002. O poeta recebeu Certificado de Participação, Prêmio Augusto dos Anjos e Menção Honrosa. O Feserp é um evento nacional que reúne poetas escritores de todo o Brasil.

A poesia chorou
Com a morte de Patativa

Patativa, grande mestre
Na arte de escrever
Sempre soube defender
Nossa terra, o Nordeste.
Por isso, passou no teste
Quando esteve na ativa
Sua lembrança está viva
Ele apenas passou
A poesia chorou
Com a morte de Patativa!

Quando deram o aviso
Sobre a morte do poeta
Uma rima incompleta
Gemeu junto ao improviso.
Mas, porém, o Paraíso
Preparou uma Comitiva
E todos gritaram: viva!
Quando no recinto entrou
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

Seus versos denunciaram
A tristeza do Nordeste
Quando aqui não se investe
Pois muitos já enganaram
E com promessas falharam
Gastando só a saliva
E com pouca tentativa
O problema aumentou
E a poesia chorou
Com a morte de Patativa.

“Cante lá que eu canto cá”
Vale mais do que um enredo.
“Digo e não peço segredo,
A vaca estrela e o boi fubá,
As proesas de Sinhá”,
Com o seu teor nos criva
Uma jóia que deriva
Daquilo que ele sonhou
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

O Clássico: “Triste Partida”
Cantado por Gonzagão.
A saga de Lampião
Também não foi esquecida
O poeta em sua lida
Agiu de forma decisiva
Transformou-se em lenda viva
No ofício que abraçou
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

“Inspiração Nordestina”
Foi editado também,
Uma herança que se tem
Da poesia divina.
A Editora Ibiapina
Publicou de forma altiva
A Secult sem deriva
Trouxe “Ispinho e fulô”
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

Patativa de Assaré
Sempre foi um pioneiro.
Quem não lembra de “Balceiro?”
Que coisa linda, não é?
Pois, esta obra de fé
É uma cultura viva
Que a nós todos cativa
Pelos “causos” que contou.
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

Com a morte do menestrel
As violas se calaram
As rimas se despencaram,
Bradaram: - “Meu Deus do Céu!
O que será do Cordel
Fica sem iniciativa
Pois a mente mais ativa
De criá-los nos deixou...”
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.

Patativa leu Camões,
Casimiro de Abreu,
*Augusto também rendeu
A ele grandes lições.
Ainda viu os pendões
De Castro Alves na criva
Não foi de forma passiva
Que a História assinalou
E a poesia chorou
Com a morte de Patativa.

Nasceu pobre, morreu pobre
Lá na Serra de Santana
Conheceu légua tirana
Pois só tira quem é nobre
Sem ter dinheiro nem cobre
Foi feliz de forma ativa.
Isso tudo nos cativa
Pra amar o que ele amou
A poesia chorou
Com a morte de Patativa.



*Referência ao poeta paraibano
Augusto dos Anjos.
Ao encontrar uma foto do passado, o poeta se emociona!

Saudosa Foto

Fui mexer no meu passado
E uma foto encontrei
Olhando-a logo notei
O quanto tenho mudado
Pois o papel amarelado
Mostrou-me tão fielmente
A diferença do presente
Para um tempo que passou
E que nunca mais voltou
Nem jamais saiu da mente.

Deslizei suavemente
Os meus dedos no retrato
E através deste contato
Senti algo diferente:
Uma saudade ardente
Dos tempos da juventude,
Quis segurar mais não pude
O impacto da emoção
Misturada a vibração
Daquilo que nos ilude!

Apeguei-me na virtude
De ser firme nesse instante
Com os olhos lagrimantes,
Tentei contê-los, não pude.
Sem mudar de atitude
Mantive a fotografia
Segurada na mão fria,
E apertada no meu peito
Lembrando o que foi desfeito
Na minha fisionomia.

Enquanto eu não percebia
O tempo se encarregou
De mudar o que mudou
De forma incisiva e fria
Aquela face que eu via
No espelho não é mais
A de certo tempo atrás
Marcada por ilusões
Sofrendo transformações
Às vezes até radicais.

Nunca esquecerei jamais
Da doce adolescência
E com uma certa inocência
Tudo era bom demais
Mas isso ficou pra trás
Em meio a perdas, enganos
E com o passar dos anos
Guardei lembranças só minhas
Foram-se cravos, espinhas,
Surgiram rugas e danos.

Esta foto é dos anos
Dourados da minha vida
Da juventude querida
Com desejos tão ufanos
E sem querer fazer planos
Deixava o tempo correr
Mas era tão bom viver
Livre, solto, sem cobranças,
Guardarei só as lembranças
Pra o resto do meu viver!
Neste simples trabalho, o poeta revela toda a grandeza do Sertão e lamenta, que muitas vezes, a nossa terra não recebe o tratamento merecido.

Meu Sertão

Meu sertão das cantorias
Das festas de vaquejada
Do batente, da corriola
E brincadeiras na latada.

Sertão das noites escuras
Que dá medo de falar
Do folclore e das “estórias”
Que a gente ver contar.

...Das noites de lua cheia
Dos passeios, do fuxico
das novenas animadas
E do cantar do tico-tico.

Sertão dos anos de seca
De sol quente, causticante
Das festas, pega de boi
E do caboclo confiante.

Sertão de gente esquecida,
Por políticos sem razão
Que só conhecem o povo
Na época de eleição.

Meu sertão das anedotas
Fofocas, superstições,
Muitos ditos populares,
Piadas, adivinhações.

Eita, sertão “veio” de guerra
Que por nós e tão querido
Mesmo com tanta peleja
Canseira, choro e gemido.

Ah! lugar abençoado
Que nos faz tanto sonhar
Pois, quem dele vai embora
Sempre pensa em voltar.
Tenho certeza, sertão,
Se tu fosses mais amado
Era o lugar melhor do mundo,
Um paraíso encantado...
Aqui o autor imagina como seria uma “discussão” no paraíso sobre a volta de Jesus. Contada em versos, ficou assim:

A volta de Jesus

Não é só aqui na terra
Que existe agitação
Pois no céu recentemente
Houve uma concentração
Sem precisar de escolta
Para discutir a volta
Do Senhor da salvação.

O encontro foi então,
Um pedido de Javé
Para espalhar a notícia
Ele convidou José
O santo pai adotivo
Que contou qual o motivo
Daquele encontro de fé.

Ainda chamou Tomé
Aquele que duvidou
Da aparição de Cristo
Quando este ressuscitou
Só aceitou quando viu
Mas depois se redimiu
E Jesus Cristo o perdoou.

Com José ele falou
A respeito de Jesus
Dizendo assim: - amigo
Será que o Senhor da Luz
Vai ter que voltar à terra
Onde só tem fome e guerra
E pegar de novo a cruz?

Aí a mãe de Jesus
Retrucou-lhe com doçura
Disse: - Tomé observe
O que diz a Escritura
Quando deixa claro isto
Afirmando que pra Cristo
Não cabe mais sepultura...

Hoje toda criatura
Que busca a salvação
Acredita no que digo
Sem nenhuma rejeição
Segue firmes os sacramentos
Observa os Mandamentos
Da Santa Religião.

Nesta hora Abraão
Aproximou-se de José
Dizendo: - Vá com Maria
E também chame Tomé
O encontro vai começar
Por isso vim lhes chamar
A pedido de Javé.

Quando entraram na Sé
Muitos já tinham chegado
E Jesus observou
Se alguém tinha faltado.
Da mãe recebeu um ósculo
Mas notou que Pedro Apóstolo
Ainda não tinha chegado.

São Pedro tava ocupado
Mas logo chegou também
O Pai Eterno rezou algo
E todos disseram: - “Amém!”.
Em clima de harmonia
Ouviram a pauta do dia
Lida por Matusalém.

Disse Deus: - Aqui se tem
Um assunto singular
E eu quero ouvir vocês
Sobre o que eu vou falar
Conforme foi prometido
Este meu filho querido
À terra tem que voltar.

Ele não pode falhar
Pois é Deus igual a mim
Como filho obediente
Sempre respondeu que sim
Quero saber da terra ao céu
Quem está com o anjo Abel
Ou quem está com caim!

O prazo já está no fim
Não posso mais esperar
Que os homens se convertam
Para o céu poder ganhar
Portanto, está na hora
De o Cristo voltar agora
E os justos ele salvar.

Eu lutei pra resgatar
O meu povo pecador
Das mãos do seu inimigo
Com segurança e penhor
Mas os fracos não ouviram
E com pouca fé traíram
Jesus Cristo, o Salvador.

Eu mandei o Redentor
Para salvar a humanidade
Ele cumpriu a Missão
Pregando só a verdade
Nem assim acreditaram
E com isso rejeitaram
Os planos da Divindade.

- Mas nos diga, na verdade.
Assim falou Santa Inês.
- Se o Senhor vai permitir
Que o Cristo outra vez
Passe por humilhação
Ou até perseguição,
Martirizado, talvez?

- Eu concordo com Inês.
São Bernardo assim falou.
- Lá também sofreu Maria
Que na vida não falhou
E a tristeza de José
Quando o povo em Nazaré
O seu filho ignorou?”

Aí Cristo retrucou
E disse assim: - Meus amados
Não fiqueis com este assunto
Dessa forma, angustiados
Porque esta minha volta
Não terá reviravolta
Como nos tempos passados.

Todos foram perdoados
Segundo o arrependimento
Mas eu não posso fugir
Do que está o Testamento
Este dia vai chegar
E à terra eu vou voltar
Pra fazer o julgamento.

Quando chegar o momento
De se cumprir a Escritura
Todos ressuscitarão
Do local da sepultura,
Os vivos justificados
E os mortos condenados
Para o mundo de amargura

Como diz a Escritura
Eu irei como um ladrão
Que não avisa quando vai
Invadir uma mansão
Quem não estiver preparado
Não será justificado
Pra viver com Abraão.

O Pai Eterno, então,
A palavra retomou:
- Acho que ouviram bem
O que meu filho falou
E todos hão de convir
Que não dá para fugir
Daquilo que se traçou.

Sei que sou o que sou
Como disse a Moisés
Entregando os Mandamentos
Que todos sabem, são dez
E deveriam ser lembrados
E nunca ignorados
Pelos que são infiéis.

Por isso mesmo, ao invés
De ficarem assim, aflitos
Com a volta de Jesus
Ao planeta dos conflitos
Procurem compreender
Que não dá pra desfazer
O que ficou nos escritos.

Mesmo não tendo atritos,
O impacto vai ser forte
Em meio uma grande nuvem
Passando de Sul a Norte,
Cristo vai aparecer
Cheio de glória e poder
Pra vencer de novo a morte.

Nesta hora o fator sorte
Não servirá pra nada não
Apenas as boas obras,
A fé, justiça e perdão
Serão os ingredientes
Para os obedientes
Conquistarem a Salvação!

Mas digo de antemão
Que não posso revelar
Nem o dia nem a hora
Que o Cristo descerá
Em um mistério se encerra
E entre o céu e a terra
Sei que ninguém saberá.

Este detalhe só está
Reservado à Trindade
Que decide o momento
Pra confirmar a verdade
Consumando o que foi dito
Verbalmente ou por escrito
Segundo minha vontade.

Apenas pra humanidade
Alguns sinais enviei
Demonstrando meu desgosto
Com aquilo que planejei
Quando muitos me traíram
E na vida sucumbiram
Desobedecendo a Lei.

Portanto, agora eu irei
Este encontro encerrar
Fico muito grato a todos
Que puderam me escutar
Apenas entendam isto
Que o retorno de Cristo
Breve se confirmará”.

Em clima familiar
Tudo ficou encerrado
Após várias discussões
Nada ali foi transformado
Porque o que Deus ordena
Não pode sair de cena
Nem jamais modificado.
Nesta poesia, o poeta conta como às vezes o sonho de um mandato eletivo pode terminar em decepção. Confira:

O candidato

Eu sempre fui popular
Um cidadão simples, pacato
Mas certa vez na vizinhança
De repente veio um boato
Que eu tinha pretensão
De nossa próxima eleição
Sair como candidato.

A notícia correu solta
Eu também não atrapalhei
Apesar de nessa idéia,
Garanto, nunca pensei
Mas eu fui me acostumando
Aqui, ali, alguém falando
Pois não é que eu gostei!

No começo eu fiquei
Assim, numa indecisão
Tinha dia que aceitava
Já depois, dizia não.
Os dias foram se passando
E também se aproximando
A data da eleição.

Na verdade, eu já era
Um cabo eleitoral
Tinha serviço prestado
Da Sede a Zona Rural
Portando nessas “altura”
A minha candidatura
Não era nada de anormal.

Chegando a convenção
Eu já tava decidido
Eu pleno gozo dos direitos
Filiado a um partido
Depois sai em campanha
Sem mostrar nenhuma manha
Confiante e destemido.

Não parava mais em casa
Era uma luta infernal
Andando com lideranças
Na Sede e Zona Rural
De fronteira a fronteira
Para ocupar uma cadeira
Na Câmara Municipal.

Eu não tinha mais sossego
Não parava mais no lar
Não tinha tempo pro almoço
Nem também para o jantar
Minha vida era correr
Sem ter direito ao lazer
De brincar, de passear.

Minha casa era repleta
De gente pedindo ajuda
Minha mulher reclamava,
Às vezes ficava muda
Nesta luta que travei
Eu muito me aperreei
Num grande “Deus nos acuda”.

Fui gastando o que tinha
Pensando em ser eleito
Quando o eleitor pedia
Arranjava qualquer jeito,
Uma maneira de ajudar
Para não contrariar
A vontade do sujeito.

Fui fazendo estratégias
Pra ganhar a eleição
Uns diziam que votavam
Já outros diziam não
Alguns falavam talvez
Para não causar de vez
Em mim a decepção.

Eu não tinha muita coisa
Mas não vivia sossegado
Tinha carro de passeio
E até curral de gado
Casa boa de morada
Uma fazenda quitada
De terreno estruturado.

Certa vez em um comício
Tive uma raiva danada
Quando ouvi alguém dizer:
- Esse aí não tá com nada,
Nóis que samo eleitor
Eleger vereador
É uma barca furada!

Através do meu discurso
Fui mostrando os sinais
Que a coisa não é assim
Que nem todos são iguais
Infelizmente o Sistema
Causa todo este dilema
E conclusões desiguais.

Pensei ainda em desistir
Mas depois, falei pra mim:
- Já que tudo começou
Desistir fica ruim
Uma campanha não é mole
Até sapo a gente engole
Pra poder chegar no fim.

Finalmente o grande dia
Estava para chegar,
Eu nem sequer via hora
De ser votado e votar
Fazer o coroamento
Adentrar no parlamento
E assim, ir legislar.

No dia da eleição foi
Foi grande a ansiedade
Confiei nos eleitores
Da minha comunidade
Mas na hora de apurar
Eu comecei a notar
O quanto havia falsidade.

Os votos foram pingando
Aqui, ali, acolá.
Foram muitos que deixaram
De meu nome sufragar
Vi que estava perdido
Nem sequer foi parecido
Com o que eu pude imaginar.

Foi assim que aconteceu
Aqui está o relato
Fiquei muito aborrecido
Com o resultado ingrato
Se meta nisso quem quiser
Mas enquanto vida eu tiver
Não quero mais ser candidato.
Esta poesia lembra que existe em cada um de nós a recordação de um caminho, uma localidade, ou qualquer um outro setor que trafegamos, principalmente na infância, que nos deixa saudade, muita saudade...

Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Sei que nesta caminhada
Que seguimos pela vida
Uma vereda querida
Sempre em nós fica guardada:
Um caminho, uma estrada
Que nos levou pra cidade,
Ou qualquer localidade,
Deixa lembrança na gente,
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Sempre recordo um caminho
De um lugar onde eu morava,
Que por lá sempre passava
Acompanhado ou sozinho.
Muitas vezes, bem cedinho
Sabia de uma novidade
Que alguém da comunidade
Espalhava de repente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Quero de novo passar
No caminho de lembrança
Pois não perco a esperança
De um dia contemplar
As paisagens do lugar
E o que mudou de verdade
Naquela localidade
Que guardei em minha mente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Quero rever com carinho
A nossa pobre casinha
Onde morei e que tinha
Sempre lá um bom vizinho.
Todos naquele caminho
Passavam com normalidade
Pois era uma felicidade
Conviver com aquela gente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Quero olhar a calçada
Onde caíram tijolos
Talvez juntar os miolos
De telha velha quebra
Ver o lugar da latada
Onde eu ficava à vontade,
Muito serviu, na verdade,
Pro passatempo da gente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

O caminho dá acesso
A trilha para um riacho
Descendo ladeira abaixo
Não é difícil o regresso
Para chegar lá não meço
Minha força de vontade
Para ver a localidade
Na qual eu fui tão contente,
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Neste caminho eu passava
Para ir a minha escola
E até pra jogar bola
Nele também trafegava
Pois ele centralizava
Sempre uma infinidade
De veredas pra cidade
Ou setor adjacente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Aquele trecho faz lembrar
Um tempo de alegria
Aonde papai sempre ia
Para feira do lugar
Tudo queria comprar
Pra nossa necessidade
E com muita ansiedade
Lhe esperava no batente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.

Essas são recordações
Guardadas no pensamento
Que aliviam algum lamento
E até incompreensões
Mas são essas emoções
Que vivi com intensidade,
Uma tal felicidade
Que não acho no presente
Quero passar novamente
No caminho da saudade.
Aqui são contados em versos a peleja de uma família pobre do Sertão mudando de moradia.

Mudança de pobre

Já escrevi vários temas
Que a história não encobre
E até fui premiado
Por este trabalho nobre
Mas hoje posso dizer
O que pode acontecer
Numa mudança de pobre.

Na vida de gente sofrida
Há muita coisa pra dizer
A começar pela peleja
Que tem pra sobreviver
Na luta do dia-a-dia
Por saúde e moradia
E o pão pra defender.

Uma mudança de pobre
Chama logo atenção
Pela troçada que existe
De guarda-louça a pilão,
Cadeira de pau tremendo
Perna de mesa rangendo
E um resto de colchão.

Na hora que arruma os “troço”
Causa logo uma estranheza
Dá impressão que aumenta
Os cacos que ele maneja
Mas não quer esquecer nada
Da sua vasta troçada
E segue nesta peleja.

Um tamborete enfadado
Com as pernas se abrindo
Uma tipóia de rede
Com a tanga se puindo
Ajunta tudo num saco
Usando até um bisaco
Pra botar o que vai surgindo.

Pega as peças do moinho,
A prateleira empenada
Que só segura com calço
Pra colocar a troçada.
Uma peneira, um pilão,
Ralo copeira, chicão
E a bateria enferrujada.

Rádio de pilha fanhoso,
Espingarda socadeira.
Um pote pra beber água,
Botina pra ir à feira.
Uma mala “veía” de couro
Que chega fica aquele estouro
Quando bota a mulambeira.

Tira os santos da parede
E cobre com uma toalha:
Jesus, Maria, José
Que é um trio que não falha.
É por isso que o nordestino
Não perde a fé no Divino
Nem de frente pra navalha.

A ferramenta de trabalho
Não pode ficar pra trás
A picareta, a enxada
A foice de corte sagaz
Chapéu de palha amassado
Cabaça, faca, machado
E o lampião de gás.

Os cacos que são mais frágeis
Tem que ter todo cuidado
Porque se não o solavanco
Pode deixar algum quebrado
E com todo este alvoroço
Esquecem até do almoço
E o jantar fica atrasado.

O cachorro vira-lata
Fica meio desconfiado
Estranhando a mudança
Correndo pra todo lado
Lambendo as pernas do dono
Com medo do abandono,
E depois ser maltratado.

O dono lhe faz um afago
E conta para o vizinho
As aventuras que teve
Nas caçadas com o cãozinho
E apesar de tanto apuro,
Sempre possui um pé-duro
Pra não passar fome sozinho.

Chega a hora da mudança
E a família se alvoroça
Para empilhar os pertences
Em cima de uma carroça
Mesmo vagaroso e chato
É o transporte mais barato
Que se encontra na roça.

Sei que uma coisa é certa
Que todo mundo comenta
Pode ser qualquer mudança
Quando se mexe aumenta
Você pode observar
Quando alguém vai se mudar
Quase sempre se lamenta.
Versos alusivos à educadora “Menta”(apelido) professora da UVA (Univ. Estadual do Vale do Acaraú que lecionou em Aurora).

Tia “Menta”

Ensinar bem é um Dom,
É mostrar capacidade,
Zelar pela profissão,
Fazer tudo com vontade,
Cuidar bem do educando
E na escola aplicando
Um ensino de qualidade.

Sendo assim uma verdade
O que acabei de citar,
Conheci uma professora
Que sabe lecionar
Sua linguagem acalenta
Eu falo de “tia Menta”
Que na Uva é exemplar.

É rígida sem maltratar
Alegre, firme, companheira.
Na aplicação da matéria
Não admite asneira,
Conversa fora da pauta
Risadaria, voz alta
Nem cochilo na cadeira.

Não tem palavra grosseira
Sua linguagem é mansa
Gosta dessa profissão
No magistério se lança.
Uma professora assim
Ensina até em Berlim
Ou talvez até na França.

O trabalho às vezes cansa
Mas há uma compensação
Eu também uso a língua
Para obter o meu pão
Ganho o meu tostão falando
Pra o povo comunicando
Locutor de profissão.

Agora prestem atenção
Alunos no seu mister:
Aproveitem seus estudos
Vão em frente, botem fé
Que com fé a gente agüenta
E com a professora “Menta”
Só não aprende quem não quer!
O autor mostra uma preocupação com a memória do Frade Capuchinho Frei Damião e deixa transparecer um desejo de vê-lo beatificado.

Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião

Muitos partem desta lida
Pra outra realidade
E mesmo na eternidade
São lembrados nesta vida
E sei que sua partida
Só Deixou recordação
Pois não quero ingratidão
Registrada nos papéis
E nem quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião.

Me lembro que o “Capuchinho”
Era na verdade, um santo
Que pregava em todo o canto
Com bondade e carinho
Nunca fugiu do caminho
Que segue um bom cristão
Não fazia distinção
Entre pobres, coronéis
Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião

Que o nome do bom pastor
Não fique no esquecimento
E que haja sentimento
Despertando o seu valor
Pra quem pregou tanto amor
Merece esta alusão
Que nem uma ingratidão
Eu registre nos cordéis
Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião.

Ele foi um pioneiro
Com as sagradas missões
Nos deixou tantas lições
No papel de mensageiro
Pregava o dia inteiro
Sempre de terço na mão
Na hora da pregação
Condenava os bordéis
Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião.

Eu ainda era menino
Quando ouvi falar do Frei
Que defendia a lei
De Jesus Cristo, o Divino.
Através do seu ensino
Ouve muita conversão
Vi gente pedir perdão
Ajoelhado a seus pés
Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião.

Não ouço uma referência
Ao santo do Nordeste,
Nem sua luta inconteste
Por paz, justiça e decência
Ponham a mão na consciência
E façam uma petição
Para a beatificação
Catalogada em papéis
Não quero que os fiéis
Esqueçam Frei Damião.

Aurora-Ce, fevereiro de 2001.
As manias, superstições que envolvem o dia de sexta-feira são muitas conhecidas... Mas, tenho certeza que em relação à segunda-feira, ainda é preciso conhecer algumas. Confira:

Segunda-feira

Às vezes a segunda-feira
É sinônimo de ressaca
Bate logo uma preguiça
E quando ela ataca
O “cabra” se sente mole
Sentindo a saúde fraca.

Quando num fim de semana
Que o sujeito tem bebido
Se faz alguma bagunça
Pouco depois é perseguido
E amanhece na segunda
Ao xadrez recolhido.

Também há superstição
Com o dia de segunda-feira
Tem gente que não se muda
Ou fica longe da torneira
Deixa pro dia seguinte
Que já é a terça-feira.

Ainda segue o ritual
De um pensamento falho
Que obedece às crendices
Subestimando o trabalho
Há pessoas que acreditam
Pra não haver atrapalho.

Tem gente que na segunda
Quando o dia amanhece
Acorda com mau humor
Rapidinho se aborrece
Não quer papo com ninguém
E na rua, pouco aparece.

Quando é um empregado
Que vai encarar o patrão
Entra logo no serviço
Com pouca motivação
Não dá conta do trabalho
E sofre reclamação.

E sendo um cara casado
Com uma mulher encrenqueira
Que às vezes tem razão
Quando o assunto é feira
Não encontrando dinheiro
Aí tá feita a bagaceira.

Já pergunta aborrecida:
- Diga pra mim, por favor,
E o dinheiro das compras
Onde foi que “tu botou?”
Se não tiver nenhum tostão
Comprar fiado eu não vou.

Ela faz muito barulho
Mas nada fica acertado
Sem ter muito o que dizer
O “cabra” fica calado.
Sabe que não tem razão
Pois ele mesmo é culpado.

É difícil na segunda
Se marcar um batizado
Celebrar um casamento
Ou promover um chachado
Pode até acontecer
Se o dia for feriado.
Aqui são mostrados em versos alguns dos vários dissabores que podem surgir na vida.


A pior coisa do mundo.

A pior coisa do mundo
É uma pessoa fuxiqueira
Um “bebo” dizendo asneira,
Dá esmola a vagabundo,
Ouvir um político imundo
Dizer coisas que não faz,
Um vizinho incapaz
De lhe dar até bom dia,
Um querendo só orgia
Em detrimento da paz.

Uma casa sem torneira,
Uma família sem pão,
Uma visita de “supetão”
Que vem pra falar besteira,
Dor de cabeça a noite inteira
E a farmácia fechada,
Uma esposa relaxada
E a sogra enchendo o saco
Tocando no ponto fraco
Da sua filha mimada.

Um menino maluvido
Uma discussão à toa
Xingamento de patroa,
Mulher boa sem marido.
Um velho todo enxerido
Dizendo que é capaz
De possuir igualmente gás
Feito um adolescente.
Fofoca, cochila e mente
E nunca sabe o que faz.

Papel de luz atrasado,
Uma confusão em casa
Um salário que atrasa
E o sujeito endividado
Sem poder comprar fiado
Porque a conta estourou
E agora o que restou
Não dá pra passar o mês,
A família é mais de seis
Pra comer do que sobrou.

Uma roça pra limpar
E o dono desanimado
Porque olha pro roçado
E vê o legume murchar
Porque o inverno irregular
Dizimou a plantação.
Faltando até a ração
Pra alimentar os animais
Pois assim já é demais
Não há cristão que agüente
Vendo a seca inclemente
Botar tudo para trás.

Um homem desprevenido,
Uma família desregrada
Uma esposa relaxada
Que não liga pro marido.
Um ancião esquecido
Pelos parentes que tem
Passa a viver sem ninguém
Pelas ruas mendigando
E alguém se aproveitando
Do Benefício também.
É possível tirar vantagem de apagão elétrico? O poeta diz que sim. Confira.

As vantagens do apagão

Nem tudo aqui é perdido
Nem tudo é decepção
Pra confirmar o que digo
Amigo, preste atenção
Nas vantagens que existem
Na hora do apagão.

Tendo apagão, meu compadre,
Se isola logo a TV
As conversas já são outras
E no céu se pode ver
As estrelas tão bonitas
E a lua no anoitecer.

Com o racionamento
Se vê gente nas calçadas
As comadres se encontram
Numa conversa animada
Trocam o assunto de novela
Por “estórias”, gargalhadas.

O assunto de energia
Pros caboclos não engrossa.
A conversa predileta
É chuva, trato de roça,
Pescaria, vaquejada
E fofoca na palhoça.

A energia nunca foi
Prioridade no sertão
Pode perguntar agora
Ao caboclo ‘pé no chão’
Qual o desejo maior dele
Não é saúde, paz e pão?

Na falta da energia
Havia hábitos salutares
Se comia o natural
Sem encontrar tantos males
Hoje toda a evolução
Contaminou nossos lares.

A água que se bebia
Era de um pote de barro
E tinha um sabor melhor
Quando trazida num jarro
E hoje o líquido gelado
Pode até causar pigarro.

O Apagão favorece
Um namoro no escuro
Encostado na janela
Ou ainda atrás do muro
Não há incomodação
E ninguém sofre apuro.

Desta forma, meu amigo,
Não precisa agitação
Com as normas implantadas
Por este tal de “Apagão”.
Isso não vai se atrapalhar
A vida no meu sertão!


*Programa de Racionamento de Energia que vigorou no Governo de FHC.
(Poesia escrita no período do “Apagão” elétrico).
Aqui o poeta conta como um amor desfeito maltrata um coração apaixonado.

Amor desfeito

Se você me perguntar
Por vivo deste jeito
Cabisbaixo e muito triste
Cheio de mágoa no peito
Respondo é uma dor
Causada por um amor
Que deixou tudo desfeito.

Este alguém que me deixou
Mexeu muito com meu ser
Já não sou aquele homem
Que gostava de viver
O riso solto, olhar brilhante
Se tornaram tão distante
Que logo dá pra perceber.

Eu a queria só pra mim
Mas o destino não quis
Não desejo mal a ela
Mesmo eu sendo infeliz
Quero que encontre alguém
Que a possa amar também
E a faça bem feliz.

Ainda guardo na lembrança
Quando ela disse assim:
- Me desculpe, neste instante,
Não tenha raiva de mim
Sei que não o quero mais
E não esqueça jamais
Que tudo chegou ao fim.

Prosseguiu com seu relato
Que eu nunca queria ouvir
Pedindo compreensão
E querendo se redimir.
Quis olhar nos olhos seus
E dar-lhe um beijo de adeus
Mas não pôde permitir.

Segurei na sua mão
Mas não fui correspondido
Disse a ela eu te amo
Mas ela não deu ouvido
Numa ânsia quase louca
Quis beijar a sua boca
Pela paixão envolvido.

Insisti... Beijei seus lábios
Mas não tive o mesmo gosto,
Me desgrudei do seu corpo
Cheio de mágoa e desgosto
E dela assim, me afastei
Pois juro que derramei
Muitas lágrimas no meu rosto.

Faz anos que não a vejo
Nem tenho notícia dela
Mas aos poucos vou curando
A saudade que me atrela
A um amor que perdi
E depois nunca senti
Uma paixão igual aquela.
O poeta se inspira com a volta das chuvas.

A chuva

Que coisa boa é a chuva,
Muda tudo no sertão
As plantas se alimentam
Das gotas que caem no chão
Vai se embora a tristeza
E o sertanejo planeja
Cuidar da sua plantação.

A galinha cacareja,
No terreiro faz ciscado
No chão mole do monturo
Que agora está molhado
Enquanto isso na latada
O caboclo bate a enxada
Para cuidar do roçado.

Forma logo um adjunto
Para avançar no trabalho
Olhando a paisagem verde
Coberta pelo orvalho
Pisando no solo bruto
Dando uma de astuto
Pra não haver atrapalho.

Um passarinho que canta
Na cabeça de uma estaca
Um bezerro se roçando
Querendo o peito da vaca
Lá longe a serra fumando
E o sertanejo notando
Que a colheita não é fraca.

Quando a chuva se ausenta
Do período invernoso
O sertanejo se aborrece
Começa a ficar nervoso
Mas quando ela aparece
A esperança se aquece
E tudo fica fabuloso.


O inverno quando vem
Traz um rio de bonança
O agricultor em seu roçado
Aumenta sua esperança
Planta a semente que tiver
E diz sorrindo pra mulher
Em Deus tenho confiança.

A chuva espanta a tristeza
Do caboclo do roçado
E quando o inverno pega
Fica todo animado
Escolhe só terra boa
E sem ligar conversa à toa
Aproveita o chão molhado.

Quem trabalha no inverno
E do roçado não tem medo
Colhe para o ano inteiro
Sem precisar de segredo
Mas quem muito se escora
Aí a chuva vai embora
E fica chupando o dedo.

Uma coisa que eu lamento
E não tem nenhuma graça
É quando se colhe a safra
Mostrando destreza e raça
Aí alguns de mau costume
Pega parte do legume
E vende pra beber cachaça.

Tem nêgo desmantelado
Que sempre acaba perdendo
Quando colhe o que planta
A metade já tá devendo
Nunca sai do atoleiro
Passa fome o ano inteiro
Mesmo no solo chovendo.
Aqui o poeta faz um alerta em relação ao voto.

Mágoa de Eleitor

Sempre em época de eleição
Eu me lembro de um fato
Quando um certo candidato
Dixe: - Bom dia, cidadão!
Sim, bom dia! Pois não,
Respondi pro visitante
Que de uma forma elegante
Começou puxar conversa
E depois falou sem pressa
De um assunto palpitante.

Dixe assim: - Sou candidato
Para a próxima eleição
E com a sua atenção
Eu lhe faço esse relato
Querendo saber de fato
Se já tem em quem votar
Ou se não, vou lhe mostrar
O meu plano de trabalho
Que não é um quebra galho
Para depois lhe enganar.

Falei pra ele: - Doutor,
Em votar, tive pensando,
Aqui, acolá, conversando
Com os outo eleitor
Acrescento pro senhor
Que aqui vota dez pessoa
Contando com a patroa
Que segue o que eu disser
E sei também que a muier
De política não enjoa.

Prossegui sem arrudei
Sem precisar de imbróio
E o home cresceu os ozóio
Nos voto que eu citei
Também, de pressa notei
Que ele se animou
A minha caçula afagou
E começou logo a dizer
Se vocês me eleger
Eu serei um bom gestor.

Eu não gosto de talvez
Sou um cabra destemido
Se eu falar, tá garantido
Sou amigo de uma vez.
Político sem altivez
Não está na minha lista.
Quero que ninguém desista
De votar em quem trabalha
A quem promete e não falha
Sem dá uma de artista.

Se eu ganhar a eleição
Vou mudar esta cidade
Trazer pra comunidade
Benefício de montão
Não quero que o cidadão
Fique no esquecimento.
Saúde, emprego, calçamento
É minha bandeira de luta
Vou levar da Sede a gruta
Muito beneficiamento.

Aí depois que falou isso
Pedi: - Doutor, um momentin...
Porque o senhor falando assim
Já parece um compromisso
Eu não entendo bem disso
Mas posso lhe alertar
Porque se o senhor ganhar
Nós quer do senhor bravura
E se quebrar a prefeitura
Nós vamo lhe ispulsar.

Não quero pedir ajuda
Para votar no senhor
Só lhe peço um favor
Com o poder não se iluda
Sempre que puder acuda
Quem tiver disprivinido
Que o Dr. será querido
Por esta população
Que sempre sofre “nas mão”
De político descabido.

Respondeu assim: - muito bem
Eu concordo com o senhor
E lhe confesso que estou
Com decepção também
Por causa de tanto amém
A muito aproveitor
Que seduz o eleitor
E quando ganha não faz nada
Deixa a cidade abandonada
E se torna um malfeitor.

Com este palavriado
O sujeito me convenceu
Meu “subrin” me atendeu
E dixe: - tá combinado
Também fico do seu lado
Sem nenhuma apelação
Pois já é uma decisão
Acertada nesta mesa
E eu já tenho a certeza
Que tá ganha a eleição.

Ele ficou todo ancho
E ainda muito confiante
Daquela data em diante
Vinha sempre no meu rancho
Sempre procurando um gancho
Pra poder politicar
Tinha um jeito de falar
Que agradava a cidade
E a nossa comunidade
Só queria lhe escutar.

Certa vez ele chegou
Na casa do meu vizim
Deu de garra a um muim
E mio mole quebrou
Até o xerém passou
Sem nenhum constrangimento
Dizendo: - Eu agüento,
Porque também nasci pobre
Nunca dei uma de nobre,
Não gosto de fingimento

Foi ganhando a simpatia
Do povo humilde, pacato.
Pois não é que o candidato
Ganhou foi com maioria.
Em nome da Democracia
Assumiu a Prefeitura
Mostrando muita bravura
Começou a governar
Sempre tentando repassar
Papel de boa figura.

Certo dia deu vontade
De ir ao seu gabinete
Através de um chefete
Que estava na cidade.
Mas, eu senti na verdade
Uma grande decepção.
Pouco me deu atenção
Quando eu lhe dei bom dia
Diferente do que eu via
No tempo da eleição.

Continuou conversando
Com mais alguém que chegava
Enquanto eu continuava
Só ali, observando...
Aí depois fiquei pensando...
Aqui não é lugar pra eu,
Esse home se elegeu
Com a ajuda do meu voto
E só agora é que noto
Que de tudo se esqueceu.

Pesquisei o ambiente
Mas ninguém pra eu sorria
E quando a porta se abria
Eu olhava aquela gente,
Pois quem era indigente
Tinha que esperar lá fora
Quando ali uma senhora
Anotava os pedido
E aquele povo sofrido
Esperava mais de hora.

Apesar de entrar primeiro
Eu não fui considerado
Fiquei num canto jogado
Assim, como um forasteiro.
De repente, um home ordeiro
Dixe assim: - E o senhor?
Já falou com o Doutor?
Respondi: - Tô esperando
Ele dixe: - Vá falando
O seu assunto, por favor!

Quando fui falar: - Pois não!
Apareceu o prefeito
Que preguntou desse jeito:
- O que deseja o cidadão?
Eu lhe dixe: Meu patrão,
Não vim aqui lhe pedir nada
Só resolvi dá uma olhada
Pra conhecer o setor
Mas parece que o senhor
Não lembra do camarada...

Ficou mei encabulado
Mas preguntou: - qual o seu nome?
Respondi: - eu o sou um home
Que sempre tive ao seu lado
Mas o senhor não tá lembrado
Quando em meu ambiente,
Lá almoçou com a gente
Conversou mais de uma hora,
Mas hoje lhe vejo agora
E me acha diferente.

- Diz que não sabe quem é eu?
Laigue a mão de ser fingido.
Agora já estou arrependido
Pelo voto que foi meu
Eu que fui eleitor seu
Hoje sou ignorado.
É como diz o ditado:
Pobre é mermo uma desgraça,
Confia, vota de graça
E depois é desprezado.

Ainda quis se desculpar
Depois da chateação.
Eu dixe: - Tem nada não,
Não queira se preocupar.
Mas posso lhe assegurar,
Que mermo sendo pacato
E ter nascido no mato
Sempre fiz papé bonito
Mas nunca mais acredito
Em “merda” de candidato.

Dali fui me retirando
Com um desgosto danado
Mas por onde eu tenho andado
Nunca cheguei lamentando.
As lições eu vou tirando
Do que tem me acontecido.
Quem sempre tem me ouvido
Nunca bobeia um segundo
Pois a pior coisa do mundo
É a gente votar perdido!
Aqui o poeta coloca em versos o quanto é prejudicial ao ser o humano o não ter o que fazer(falta de trabalho)

Ociosidade

Não há coisa pior na vida
Do que a ociosidade
Quem não tem atividade
Pode lhe faltar comida
Calçado, roupa, guarida
E ficar no prejuízo
Barelar o seu juízo
Pensar em fazer besteira
Ou passar a vida inteira
Pobre, sujo, doido e liso!

O homem que não trabalha
Fica sem ter esperança
A preguiça lhe alcança,
Passa a lutar por migalha
Perdendo logo a batalha
Diante do sacrifício
Não encontra um ofício
Que lhe dê satisfação
Negam-lhe salário e pão
Para não ter desperdício.

Alguém falou sabiamente:
“O trabalho dignifica”.
Mas quem não se sacrifica
Nunca consegue ser gente
Não passa de um demente
E vai ficando pra trás
Pois não consegue jamais
Ter vida vitoriosa
Porque mente ociosa
Só agrada Satanás.

Ouvi um outro dizer
Na vida tive atrapalho
Não liguei para o trabalho
E hoje vivo a sofrer
Não tenho o que comer,
Nem uma casa pra morar
Hoje vivo a lamentar
Pois a velhice já chegou
Até a mulher me abandonou
Aumentando o meu penar.

O trabalho é uma virtude
Que só trás satisfação
Segurança, educação
Paz, alegria e saúde.
Quem toma outra atitude
E não segue este preceito
Se transforma num sujeito
Que não sabe o que é viver
E quando for perceber
A coisa não tem mais jeito!
SONETOS
Efêmera dúvida

Ó Grande Deus! Eis-me aqui,
Aflito! Direi, por um momento,
Que duvidei em pensamento
Quanto à existência de ti.

Procurei olhar o Testamento
Alguns trechos sagrados eu li
Por fim, acreditei, me convenci...
Encontrando, assim, o meu alento.

Perdão te peço, Sacrossanto!
Eu duvidei... Mas, no entanto,
Tão pouca fé fez-me sofrer.

Encontrei respostas nas perguntas,
Que no meu âmago ficaram juntas
Pra doravante, não mais temer!
Só por hoje*

Só por hoje me importa a felicidade.
Quero viver plenamente o meu dia
Alegre, na paz, em harmonia;
O amanhã só pertence à Divindade.

Só por hoje serei amigo sem revelia
Dedicarei meu tempo à fraternidade,
Sem mágoas. Serei sincero. Na verdade,
Quero viver fielmente este dia.

Só por hoje eu lutarei pra ser leal
Amarei o bem e fugirei do mal
Sem trair jamais a confiança recebida.

Só por hoje procurarei não mais pecar
Usarei todo este tempo para amar
Glorificando a Deus e louvando a vida!

*Baseado nos Dez Mandamentos do Papa João XXIII (Só por hoje)
Hellen Vitória

Assim vieste: flamejando o lar
De alegria imensa e inesgotável.
Hellen Vitória, graça inefável...
Vida nova que no faz sonhar.

Contemplo teu sorriso tão amável.
Neófita, tens um brilho no olhar,
Fazendo eflúvio qual beleza do luar,
Primícias de um amor imensurável.

Já na progênie sentias este carinho
Que seguirá a diretiva do caminho
Igualmente a égide que te damos.

Que os teus dias sejam de ventura
Envolvidos no amor e na ternura.
Dádiva maior, nós te amamos!

Alusivo à filha Hellen Vitória
Efeméride augustiana*

Oh! Augusto. Quão grande Augusto!
Insigne, cálido, deveras, inetável.
Estro exímio. Em tudo, implacável.
Irreduzivelmente sem nenhum susto.

Descreveste o destino inexorável,
As quimeras, que a todo custo
Faz-nos sofrer, não é assim Augusto?
Mas que incisória vida lastimável...

Dirias agora que tudo é mesmo aziumado
E que no mundo esquálido de pecado
Não existe inferência nas porfias.

Há tantas verdades em teus escritos
Um grande mito dentre os mitos
Tão multifário no que escrevias.

*Uma homenagem ao escritor paraibano Augusto dos Anjos para perpetuar-lhe sua memória e obra.

sábado, 7 de março de 2009

Agradecimento

Agradeço a todos os leitores e amantes da poesia, ao tempo em que disponibilizo este para comentários, leituras, opiniões e tudo para engrandecimento da poesia sertaneja.

Grato,
Pedro Guedes Rolim