domingo, 15 de março de 2009

A poesia premiada de Pedro Guedes mostra também uma preocupação com os problemas sociais que afligem a nossa gente, como se observa neste trabalho.

Coisas de doer

Uma criança abandonada
Sem carinho, sem mesada
Vivendo só pra sofrer
Ficando sempre a mercê
De uma esmola de um adulto
Sujeita a qualquer insulto,
Isso é coisa de doer.

Um homem desempregado
Vivendo subestimado
Pela ganância do poder.
É triste o seu padecer
Vendo os filhos passar fome,
Sem posição e sem nome,
É coisa que faz doer.

Ouvir uma mãe chorando
Por justiça implorando
Vendo o seu filho morrer
Vítima do insano poder
De bandidos sem punição,
Dilacera o coração,
Até a alma faz doer.

Um pobre trabalhador
Que se empenha com fervor
No roçado pra colher.
Mas, depois não vê chover
Perdendo o investimento
Restando só o lamento,
Isso também faz doer.

Criar um filho querido
E depois dele crescido
Ele humilhar você,
Procurando sem envolver
Só com gente que não presta
Uma coisa como esta
Faz o coração doer.

Eleger um candidato
Que depois se torna ingrato
E vira as costas pra você,
Nunca pode lhe atender
Quando quiser falar com ele
Não espere nada dele
Porque é ruim de doer.

Uma seca no Nordeste
Forçar o “cabra da peste”
Ir embora sem saber
Como vai sobreviver
Com a família n’outro chão
Sem esperança, sem pão,
Isso muito faz doer.

Na porta de um hospital
Um enfermo passar mal
E ninguém pra atender
E depois que ele morrer
Ficar impune o culpado
Nem sequer ser processado,
É muita coisa pra doer.

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