domingo, 15 de março de 2009

Nesta poesia, o poeta conta como às vezes o sonho de um mandato eletivo pode terminar em decepção. Confira:

O candidato

Eu sempre fui popular
Um cidadão simples, pacato
Mas certa vez na vizinhança
De repente veio um boato
Que eu tinha pretensão
De nossa próxima eleição
Sair como candidato.

A notícia correu solta
Eu também não atrapalhei
Apesar de nessa idéia,
Garanto, nunca pensei
Mas eu fui me acostumando
Aqui, ali, alguém falando
Pois não é que eu gostei!

No começo eu fiquei
Assim, numa indecisão
Tinha dia que aceitava
Já depois, dizia não.
Os dias foram se passando
E também se aproximando
A data da eleição.

Na verdade, eu já era
Um cabo eleitoral
Tinha serviço prestado
Da Sede a Zona Rural
Portando nessas “altura”
A minha candidatura
Não era nada de anormal.

Chegando a convenção
Eu já tava decidido
Eu pleno gozo dos direitos
Filiado a um partido
Depois sai em campanha
Sem mostrar nenhuma manha
Confiante e destemido.

Não parava mais em casa
Era uma luta infernal
Andando com lideranças
Na Sede e Zona Rural
De fronteira a fronteira
Para ocupar uma cadeira
Na Câmara Municipal.

Eu não tinha mais sossego
Não parava mais no lar
Não tinha tempo pro almoço
Nem também para o jantar
Minha vida era correr
Sem ter direito ao lazer
De brincar, de passear.

Minha casa era repleta
De gente pedindo ajuda
Minha mulher reclamava,
Às vezes ficava muda
Nesta luta que travei
Eu muito me aperreei
Num grande “Deus nos acuda”.

Fui gastando o que tinha
Pensando em ser eleito
Quando o eleitor pedia
Arranjava qualquer jeito,
Uma maneira de ajudar
Para não contrariar
A vontade do sujeito.

Fui fazendo estratégias
Pra ganhar a eleição
Uns diziam que votavam
Já outros diziam não
Alguns falavam talvez
Para não causar de vez
Em mim a decepção.

Eu não tinha muita coisa
Mas não vivia sossegado
Tinha carro de passeio
E até curral de gado
Casa boa de morada
Uma fazenda quitada
De terreno estruturado.

Certa vez em um comício
Tive uma raiva danada
Quando ouvi alguém dizer:
- Esse aí não tá com nada,
Nóis que samo eleitor
Eleger vereador
É uma barca furada!

Através do meu discurso
Fui mostrando os sinais
Que a coisa não é assim
Que nem todos são iguais
Infelizmente o Sistema
Causa todo este dilema
E conclusões desiguais.

Pensei ainda em desistir
Mas depois, falei pra mim:
- Já que tudo começou
Desistir fica ruim
Uma campanha não é mole
Até sapo a gente engole
Pra poder chegar no fim.

Finalmente o grande dia
Estava para chegar,
Eu nem sequer via hora
De ser votado e votar
Fazer o coroamento
Adentrar no parlamento
E assim, ir legislar.

No dia da eleição foi
Foi grande a ansiedade
Confiei nos eleitores
Da minha comunidade
Mas na hora de apurar
Eu comecei a notar
O quanto havia falsidade.

Os votos foram pingando
Aqui, ali, acolá.
Foram muitos que deixaram
De meu nome sufragar
Vi que estava perdido
Nem sequer foi parecido
Com o que eu pude imaginar.

Foi assim que aconteceu
Aqui está o relato
Fiquei muito aborrecido
Com o resultado ingrato
Se meta nisso quem quiser
Mas enquanto vida eu tiver
Não quero mais ser candidato.

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